Banco Mundial recomenda Turismo diferenciado e agricultura de nicho

Banco Mundial publicou o Diagnóstico Estratégico sobre Cabo Verde onde, apesar de reconhecer que ao longo dos últimos 25 anos se registou um “desenvolvimento notável”, a crise “financeira mundial de 2008 levou a uma desaceleração súbita, dramática, e sustentada no crescimento económico que expôs o esgotamento do modelo de desenvolvimento de Cabo Verde”.

O documento elaborado pelo Banco Mundial foi apresentado esta segunda-feira na Praia, pelo vice-primeiro ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, e nele pode ler-se que o “colapso do crescimento económico foi causado por uma queda acentuada no nível de IDE (Investimento Direto Estrangeiro)” que foi influenciado por sua vez, pela crise da dívida soberana na Europa. “O aumento dos gastos de capital anti-cíclico pelo governo, compensou apenas parcialmente por este declínio”, acrescenta o relatório. Além disso, lê-se ainda, os retornos sobre os investimentos públicos e privados “contraíram em mais de 20%, destacando as fraquezas na qualidade dos investimentos realizados após a crise”.

No turismo, embora o número de visitantes tenha recuperado rapidamente e os ganhos do sector tenham aumentado, “os gastos por turista diminuíram em 37% desde 2008. A pobreza, no entanto, continuou a baixar entre 2007 e 2015, provavelmente refletindo os investimentos em infraestrutura rural, o aumento das remessas e um novo aumento no volume de trabalhadores do turismo”.

Depois da crise de 2008, “o impacto limitado no crescimento das despesas públicas contra cíclicas de investimento” idealizadas pelo governo a que se juntaram “as crescentes ineficiências no seu grande sector para estatal levaram a um rápido aumento da dívida pública. A dívida de Cabo Verde aumentou cerca de 70%, para 130% do produto interno bruto (PIB) em 2016, e o risco de sobre-endividamento externo é elevado”.

Durante a apresentação, esta segunda-feira, Olavo Correia alertou para a necessidade da melhoria do ambiente de negócio, e da diminuição do nível de endividamento público, por considerar que “Cabo Verde não pode continuar a crescer, aumentando permanentemente o seu endividamento público”.

Isto obriga, explicou, que o país venha a ter uma nova perspetiva de financiamento, virada para a capacitação de investimento privados, nacionais e estrangeiras, para as parcerias público-privadas e para criação de condições que permitam aos privados investir em áreas estruturantes para o futuro do país.

Recomendações

O estudo, depois de fazer uma análise à situação atual do país, aponta algumas soluções fazendo sempre a comparação de Cabo Verde “contra os seus pares desejáveis nos indicadores-chave de desempenho e evidências adicionais” e nele as restrições ao desenvolvimento que foram identificadas pelo Banco Mundial são agrupadas em quatro grandes categorias: falta de capital humano, conectividade fraca, fraco desempenho do sector público, e a falta de resiliência.

Dessa forma, aponta o Banco Mundial analisando cada uma dessas restrições, a melhoria do capital humano “será de vital importância para a concretização do potencial de Cabo Verde de aumentar o seu setor privado interno, e aumentar a produtividade e promover a competitividade e a inovação”.

“Conetividade insuficiente é outra restrição vinculativa para desvendar o caminho para a prosperidade para Cabo Verde” pois, como aponta o estudo, “a oferta global e a qualidade da rede de infraestrutura de transporte continuam a ser insatisfatórias, abaixo das Seychelles e Maurícias”.

Por outro lado, os riscos para a estabilidade macroeconómica “são actualmente substanciais devido à alta dívida pública e à exposição à volatilidade económica. A dívida pública de Cabo Verde continuou a aumentar apesar da consolidação fiscal nos últimos anos. Isso limita o espaço fiscal para mais gastos públicos em infraestrutura, capital humano e protecção aos pobres”.

Tendo em conta estas avaliações, o estudo recomenda que Cabo Verde, no curto prazo, priorize “a resolução das restrições que permitiriam o acesso a dois caminhos principais para impulsionar o crescimento, reduzir a pobreza extrema e promover a prosperidade partilhada: turismo diversificado e produtos agrícolas de nicho”.

No campo do turismo e reconhecendo que a atratividade de Cabo Verde como destino “tem gerado muita riqueza para o país”, o estudo aponta que a “imagem de Cabo Verde como destino de um único produto “sol, praia e mar” é injustificada e obscurece uma grande variedade de potenciais produtos turísticos que Cabo Verde tem para oferecer, incluindo ecoturismo, caminhadas, aventura, cultura e história. Isso ilustra um sério desafio de marca e marketing”.

“A diversificação é suscetível de espalhar os benefícios mais amplamente em todas as ilhas”, aponta ainda o estudo.

No campos dos produtos hortícolas de nicho – e também pecuários e pesqueiros – a recomendação vai no sentido da necessidade de ampliação do potencial para proporcionar melhores condições de vida e renda aos segmentos mais pobres da população.

“O setor hortícola de Cabo Verde tem-se expandido com sucesso na última década e se beneficiado com a extensão da rede de energia elétrica, da melhor disponibilidade de água para irrigação e da melhoria das estradas rurais. O crescimento médio anual de 4,6% ao ano do setor agrícola e das pescas durante 2007–2016 reflete a crescente mudança da agricultura de subsistência para um sector da agricultura cada vez mais orientada para satisfazer as demandas do mercado urbano”, aponta o estudo.

Fonte: Expresso das Ilhas

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