História do carnaval de São Nicolau em exposição

É inaugurada nesta quinta-feira, 28, a exposição Comédia – História e Identidade do Carnaval de São Nicolau, que reúne na Biblioteca Municipal de Ribeira Brava imagens e histórias de uma das festas populares mais celebradas na ilha.

Iniciativa do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Ribeira Brava, o município mais antigo da ilha, a exposição traz fotografias antigas dos festejos do rei Momo na ilha do seminário-liceu e conta a evolução registada ao longo de décadas.

Segundo informações recolhidas pelos organizadores, nos primórdios do século XX já se registavam festejos do carnaval na ilha. A festa foi passando por várias fases, de mascarados a grupos organizados.

“Alguns foliões mascaravam-se e animavam as pessoas que se deslocavam ao centro da vila para se divertirem. Com o tempo começaram a aparecer em grupos organizados”.

Segundo a mesma fonte, em 1952 um desses grupos, de nome Equador, fantasia-se uniformemente com trajes de marinheiros e anima as ruas de Ribeira Brava e Caleijão.

“No estandarte usavam o símbolo do Equador mas, por razões políticas, foram alertados de que não deviam continuar a utilizar tal símbolo”.

Entretanto, os mascarados continuavam a animar as ruas, naquilo que era chamado de Comédia d’Carnaval.

A mostra dará também grande destaque a figuras incontornáveis na história do carnaval da ilha, como José da Luz (1932- 1995) ou Zê da Lus de Nhana Nha Spedje, como era conhecido. Músico, animador e figura de destaque do Grupo Estrela. “Foi, até o ano de 1973, um grande entusiasta e compositor de marchas, sambas e mornas para o Carnaval de S. Nicolau”, diz o texto que irá acompanhar as fotografias.

Outra figura lembrada será Nho Antôn Marinha (António João Almeida /1931 – 2013) que foi “Capitão” do grupo Estrela Azul e grande animador do Carnaval e das Festas de Romaria em São Nicolau. “Figura de destaque e organizador dos desfiles carnavalescos do seu grupo, tendo sido, também, “Rei d’Estrela”. Foi homenageado nas comemorações das Bodas de Ouro do grupo Estrela Azul, em 2014.

Grande entusiasta e precursor da arte carnavalesca em Ribeira Brava, Ferrerinha (Joaquim Duarte Franco Ferreira - 1933 –1979) leva o titulo de “ O artista” e também Carnavalesco. Esta figura lendária do entrudo na ilha de “Chiquinho”, que foi Rei de Carnaval do Grupo Copa Cabana por três anos consecutivos, é também reverenciado na exposição .

“Foi o autor e construtor do primeiro andor (carro alegórico) do Carnaval de São Nicolau, o “Avião” do Copa Cabana. O seu segundo andor, o barco “Patrulha” (em 1973), foi feito no estaleiro do grupo em Maiamona”.

Um mês em festa

Com o slogan “Genuinamente Cabo-Verdiano”, o Carnaval de São Nicolau teve início desde o dia 1 de Fevereiro com a abertura oficial anunciada pela apresentação do programa da festas e por uma batucada que percorreu Ribeira Brava, partindo da Casa das Artes e Cultura rumo ao Terreiro.

Em meados de Fevereiro, segundo a página cultural Ribeira Brava, a azáfama nos estaleiros dos grupos de carnaval era intensa e a construção dos andores encontrava-se já na fase de acabamentos com o “zmebôd” (nome dado à cola feita de farinha de trigo e água) como “rei dos estaleiros”.

Por essa altura (dia 16), desfilou o grupo Tchã d’Norte enquanto que um conjunto de músicos do carnaval viajava de Ribeira Brava à ilha do Sal para participar do Carnaval d’Saniclau na Djad’Sal, evento promovido por jovens sanicolaenses residentes na ilha do Sal.

No Sábado (dia 23) houve desfile de Trio Eléctrico e Bateria dos alunos do Liceu Baltasar Lopes da Silva. No Domingo foi a vez da romaria ao aeroporto para a receção dos Reinados (com presença dos reis do carnaval). Depois da inauguração da exposição nesta quinta-feira, sexta-feira (1 de Março) será animada pelos desfiles das escolas e jardins infantis da ilha.

Segundo é tradição no carnaval de São Nicolau, os grupos oficiais desfilam nas noites de Sábado e Domingo e na Terça-feira. Marcam presença os grupos mais antigos, como o Copa Cabana e Estrela Azul.

Mas a segunda-feira véspera de carnaval não fica sem festa. É a vez dos grupos de animação Tcha Contsê e Metê-Metê levarem a folia às ruas da ilha. Os festejos só acabam no sábado, dia 9, com o desfile de enterro do carnaval.

O carnaval é pretexto para convidar turistas e visitantes estrangeiros ou de outras ilhas a apreciar outras atrações de São Nicolau. Como a gastronomia, que inclui o célebre “modje d’capod”, com xerém ou farinha de pau, o peixe seco, tudo regado com o bom grogue da ilha.

Há duas das Maravilhas de Cabo Verde para visitar na ilha: o Parque Natural de Monte Gordo e as formações rochosas de Carbeirinho. Outra referência é o roteiro Caminhos de Chiquinho, baseado na obra-prima de Baltasar Lopes da Silva. O “bodje d’rabeca”, um baile tradicional ao som de violinos, é também uma típica experiência sãonicolauense a não perder.

Fonte: Expresso das Ilhas

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