Cabo Verde inaugura obras de musealização no antigo Campo de Concentração

As obras de musealização do antigo campo de Concentração do Tarrafal, que se iniciaram em outubro de 2015, foram inauguradas quarta-feira, numa cerimónia copresidida pelo primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, e pelo seu homólogo português, António Costa, constatou a PANA no local.
A criação do chamado Museu da Resistência integra-se no projeto de preservação e musealização do ex-Campo de Concentração do Tarrafal, com o objetivo, a longo prazo, da sua declaração como Património da Humanidade.
Situada em Chão Bom, no  município do Tarrafal, na ilha de Santiago, esse estabelecimento prisional foi criado pelo Governo português do Estado Novo, em abril de 1936, tendo recebido em 29 de outubro do mesmo ano 152 presos antifascistas portugueses que lutavam contra o regime colonial-fascista português, liderado por António Oliveira Salazar.
O Campo do Tarrafal ou Colónia Penal foi, num primeiro momento, encerrado em 1954, tendo sido reativado em 17 de junho de 1961, sob a denominação de Campo de Trabalho do Chão Bom, para receber prisioneiros oriundos das colónias portuguesas que lutavam pela independência dos respetivos países.
A prisão foi encerrada definitivamente em maio de 1974, após o derrube da ditadura em Portugal e início da descolonização das antigas colónias portuguesas em África.
Nesse que é também conhecido por “campo de morte lenta” terão morrido mais de três dezenas de presos políticos resistentes portugueses à ditadura do Estado Novo, entre eles o antigo secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Bento Gonçalves (1942).
Em 2000, o Campo do Tarrafal foi transformado no Museu de Resistência, como forma de dar dignidade ao espaço e às memórias das vítimas que foram ali encarceradas ao longo dos anos.

A usar da palavra no ato da inauguração das obras de musealização do espaço, o primeiro- ministro de Portugal, em visita oficial a Cabo Verde, considerou que o Campo de Concentração do Tarrafal “é seguramente uma das marcas mais negras da história do povo cabo-verdiano e português”.
“A história dos povos não é feita só dos momentos de que nos orgulhamos”, disse o chefe do Governo português, sublinhando que a história é também feita nos momentos negros, pelo que, segundo ele, “nós temos de transmitir às gerações futuras um legado integral das nossas histórias”.
António Costa comparou a luta pela liberdade em Portugal com a luta pela independência das antigas colónias portuguesas, nomeadamente Cabo Verde e Guiné-Bissau.
“Só é verdadeiramente livre quem liberta os outros. Não era possível restaurar a democracia em Portugal sem a libertação dos povos colonizados”, sustentou o chefe do Executivo português.

Fonte: Panapress

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