“De uma forma geral, em termos de criação de emprego, o impacto do turismo é positivo” – José Gonçalvez
Em entrevista à DW, Gonçalves, diz que "qualquer país no mundo têm esses males", referindo-se a pequenos roubos e à violência sexual, tendo em conta os alertas deixados pelos Governos da Alemanha e do Reino Unido aos seus turistas.
Ministro do Turismo faz balanço positivo da atividade em Cabo Verde, mas reconhece que crescimento traz desafios sociais, nomeadamente, para quem trabalha no setor e, muitas vezes, vive em condições precárias.
A convite de uma empresa alemã que opera no setor do turismo, José Gonçalves,ministro do Turismo, Transportes e Economia Marítima de Cabo Verde, veio ao Global Media Fórum, na Alemanha, falar sobre o potencial do turismo.
Atualmente, Cabo Verde acolhe cerca de 700 mil turistas por ano, e o ministro espera que, dentro de dois anos, o número chegue ao milhão. Mas o crescimento turístico acarreta responsabilidades, particularmente a nível de sustentabilidade ambiental, desenvolvimento social e segurança. A DW África conversou com o ministro para perceber de que forma Cabo Verde lida com estas temáticas.
DW África: Quais os principais destaques da estratégia de turismo de Cabo Verde?
José Gonçalves (JG): Estamos a preparar um plano de desenvolvimento sustentável do turismo no âmbito dos ODS (Objectivos de Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas que depois será decantado em termos de masterplans por cada ilha.
DW África: Quer dizer que Cabo Verde vai abraçar outros modelos de turismo para além dos “resorts” com tudo incluído e promover outro tipo de turismo como turismo de natureza, caminhadas, e até mais cultural?
JG: Nós queremos diversificar a nossa oferta turística. Neste momento estamos a preparar um plano para integrar cada vez mais as pequenas e médias empresas no país para que participem no turismo. Temos centenas e milhares de turistas por ano e a maioria é no segmento “sol, praia e mar”. Entendemos que esta é a oferta principal é o que os turistas procuram em Cabo Verde mas também o turismo de natureza, o turismo rural, o turismo comunitário, o turismo de cultura, o turismo ligado a desportos náuticos.
DW África: A observação de tartarugas também é algo que vai atraindo mais turistas. Dá para conciliar o crescimento turístico, a sustentabilidade e ainda assim manter um ambiente em que as tartarugas possam efetuar a sua desova? Ultimamente tem-se reportado que estes espaços têm vindo a reduzir-se.
JG: A tartaruga hoje acaba sendo um produto turístico, porque o turista vai lá ver, numa situação controlada, com as ONGs, a desova e também o nascimento das tartarugas. E os nossos turistas cada vez mais são pessoas sensíveis ao meio ambiente, sustentabilidade. Hoje, com o turismo, há muito maior consciencialização de como se deve defender a sustentabilidade.
DW África: O impacto do turismo é positivo? Não só em determinadas localidades nas ilhas mais turísticas, mas para a população é geral?
JG: De uma forma geral, em termos de criação de emprego, é positivo. Mas dentro do positivo há também o aspeto menos positivo. Onde há melhores condições de desenvolvimento de turismo em Cabo Verde, não há mão de obra local. As pessoas que trabalham nas ilhas balneares têm de vir de outras ilhas e aí não estão criadas as condições de melhor alojamento, de infraestruturas sociais, clínicas, escolas, e outros que têm de existir. Isto, para nós, constitui um desafio, sabemos que se está a criar emprego, direto e indireto. Mas, por outro lado, também tem engendrado problemas em termos de alguns bairros degradados.
DW África: Como comenta que o Governo da Alemanha e o do Reino Unido lancem alertas aos seus cidadãos para terem cuidado em Cabo Verde, com alguns pequenos roubos e até em relação à violência sexual?
JG: Qualquer país no mundo têm esses males, não é só Cabo Verde. Preocupa-nos, e por isso, temos políticas e medidas tomadas, como a criação da “cidade segura”. Como disse, essa deslocação de população de uma ilha para a outra tem trazido elementos que não são de “comunidade”. Mas estamos acautelando cada vez mais, através de informação e comunicação, e informar os próprios turistas para terem algum cuidado.
Fonte: A Nação