Especialistas alertam para riscos de desaceleração da economia em Cabo Verde
Os eventos recentes na Europa e a possibilidade de uma política monetária mais rigorosa nos Estados Unidos "implicam riscos de desaceleração da economia" de Cabo Verde, embora os resultados do primeiro trimestre de 2016 apontem para uma do seu crescimento, alertou segunda-feira o Grupo de Apoio Orçamental (GAO).
O GAO é composto pelo Banco Mundial (BM), pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), pela União Europeia (UE), por Portugal e pelo Luxemburgo, depois da saída da Espanha, em finais do ano passado, devido a alterações na sua estratégia para a área da cooperação.
No final de mais uma missão de avaliação, o chefe da cooperação da UE e porta-voz do GAO, Luís Maia, revelou que a atividade económica em Cabo Verde permanece “muito fraca”, sublinhando que a taxa de crescimento da economia baixou para 1,5% em 2015, ou seja, quatro pontos percentuais abaixo do valor correspondente de 2014.
“Os baixos níveis de confiança das empresas e dos consumidores não permitem grande otimismo acerca das possibilidades do país realizar mais plenamente o seu potencial”, afirmou.
Luís Maia explicou também que o contexto macroeconómico de Cabo Verde tem sido dificultado por um certo número de fatores externos, incluindo os efeitos da revalorização do dólar norte-americano sobre o valor da dívida pública.
“Só uma forte consolidação fiscal e reformas estruturais orientadas para o reforço do crescimento como parte de uma sucessão cuidadosa de medidas de execução do programa do Governo poderão reduzir o impacto desta situação”, precisou.
Luís Maia disse que a missão do GAO aconselha Cabo Verde a adotar políticas orientadas para a aceleração do crescimento no médio prazo, de forma a recuperar algum terreno perdido durante o recente período de estagnação e continuar a apoiar a redução da pobreza.
Segundo ele, o grupo congratula-se com a determinação do novo governo do país em melhorar o ambiente de negócios e encoraja o prosseguimento das reformas necessárias para um ambiente de negócios favorável, elemento chave para atrair Investimento Direto Estrangeiro (IDE) e promover o dinamismo do setor privado.
A missão do GAO considera que o acesso ao crédito por parte do setor privado, que cresceu em menos de 2% em 2015, continua a ser um constrangimento ao crescimento económico.
Tendo em conta que, tradicionalmente, o IDE estimula o investimento privado nacional, o chefe da missão do GAO considera ser importante que as empresas domésticas tenham acesso ao crédito.
O GAO regista também progressos no reforço da estabilidade do setor bancário, bem como na flexibilização da política monetária, que deveriam encorajar os bancos a aumentar o crédito.
Além disso, o GAO saúda as iniciativas que visam encorajar os bancos a aumentar o crédito às micro e pequenas empresas e incentiva novos esforços nesta área para facilitar o acesso ao crédito.
“O baixo crescimento económico, o défice fiscal elevado e a crescente dívida pública têm sido uma fonte de preocupações para o GAO em anos recentes”, manifestou o chefe da missão.
Igualmente, prosseguiu, a situação precária de algumas empresas públicas, nomeadamente a transportadora aérea TACV e a imobiliária IFH, tem sido uma outra preocupação constante para os parceiros do GAO há já algum tempo.
Presente na conferência de imprensa realizada no final da missão do GAO, o ministro das Finanças, Olavo Correia, disse que, para inverter a situação do país, o seu Governo está a trabalhar para empreender as reformas que se impõem a nível das empresas públicas e das finanças públicas por forma a garantir um quadro de sustentabilidade orçamental.
Entre outras medidas, garantiu que o Governo irá fazer aprovar, rapidamentno, a lei do Tribunal de Contas, um novo quadro legal para a política de endividamento público, um novo quadro normativo que vai balizar a política do Executivo em matéria de investimentos públicos para que o país possa ter um quadro de gestão macroeconómico que seja mais sólido e que garanta a consolidação orçamental.
Olavo Correia adiantou que o Governo vai, igualmente, desenvolver medidas que possam promover o crescimento económico, melhorar o ambiente de negócios, criar mecanismo para apoiar o financiamento às empresas.
Segundo ele, a criação de condições a nível institucional para que as micro, pequenas e médias empresas possam ter acesso a um conjunto de incentivos que lhes permitam aumentar a produção e fazer com que a económica cabo-verdiana cresça é um outro desafio que o Governo tem pela frente.
Fonte: Panapress