Ondina Ferreira diz que Língua Portuguesa tem sido votada ao desprezo na sua oralidade e no seu uso quotidiano em Cabo Verde
Escritora e antiga ministra da Educação, Ondina Ferreira afirmou em entrevista, que a língua portuguesa tem sido votada ao desprezo na sua oralidade e no seu uso quotidiano em Cabo Verde.
Segundo Ondina Ferreira, lembrando das comemorações de 5 de Maio, dia da Língua Portuguesa, que tem notado este desprezo à língua de Camões nas áreas onde ela era normalmente usada sem qualquer problema como nas escolas, meio académico, na comunicação social e na função pública.
“Hoje em dia olham para mim, quando me dirijo a um balcão, e digo, minha senhora, bom dia eu desejava uma informação. E levantam-se porque não sabem responder-me em português. Isso era impensável há alguns anos. Como é possível que funcionários públicos, professores, alunos, ninguém fala português neste país,” questionou Ondina Ferreira.
Esta professora reformada lembrou que o português é também a nossa língua e ele não é falado, os alunos não conseguem entender os conceitos, os livros e nem interpretam as perguntas.
O mais grave disto tudo, prosseguiu Ondina Ferreira, é que há muitos casos de alunos cabo-verdianos que vão estudar nas universidades portuguesas e não conseguem sucesso nos seus estudos por não perceberem o que os professores ditem.
“Muitos chegam lá e fracassam e dizem eu não percebo o que é que o professor me diz nas aulas. Porque aqui em Cabo Verde não ouviram o português e não ouviram na escola a falar, a explicar e interpretar a língua portuguesa. Vão com grandes notas, chegam lá e não entendem nada”, enfatizou afirmando que esses alunos acabam por trabalhar como mecânicos ou outras profissões, frustrando completamente o seu programa de vida.
Entretanto, lembrou ainda que os cabo-verdianos que “éramos tidos e havidos”, no tempo que Cabo Verde não era independente, como dos países a seguir a Portugal que melhor falava a língua portuguesa.
“Vejam a desfeita que os angolanos nos fizeram a dizer que não precisam aprender português com os nossos professores porque não sabem falar português. No meu tempo isso não seria impensável, os angolanos não diriam isto”, elucidou a professora e ex-ministra da Educação realçando que hoje em dia os cabo-verdianos tornaram-se em “objetos de chacota” em matéria de português.
Para Ondina Ferreira a culpa de tudo isso é dos “crioulistas” que arranjaram uma “falsa guerra reagendada” entre o português e o crioulo, “que sempre conviveram na paz de Cristo”.
“Hoje em dia estes crioulistas, para promoverem o crioulo, brigaram com o português e obrigaram a nova geração a criar anticorpos à língua portuguesa. Essa é que é a pura e a dura realidade”, disse a professora reformada recordando que o português e o crioulo sempre coexistiram nas ilhas, conhecendo cada um o seu papel.
Fonte: Sapo CV