Empresários desesperam pela mobilidade económica
Empresários desesperam pela mobilidade económica
PorJORGE MONTEZINHO,21 jul 2018 6:58
Os agentes económicos ainda não ganharam nada com a CPLP, disse o Presidente da Câmara do Comércio do Sotavento ao Expresso das Ilhas. Jorge Spencer Lima é a favor da mobilidade, mas quer que esta seja total e não só para alguns.
Ou tudo ou nada. Esta é a mensagem do presidente da Câmara do Comércio do Sotavento, Jorge Spencer Lima. “Não podemos continuar a ter uma comunidade sem mobilidade. Ponto final. Comunidade sem mobilidade não existe e aí são os políticos que têm de criar o ambiente apropriado. E não o façam com paninhos quentes, facilitar os empresários, etc. Não, a mobilidade tem de ser global. Deixem as pessoas andar de um lado para o outro. Confiem nas pessoas. Uns vão, outros vêm, deixem que as pessoas conversem, convivam, é isso que compete aos políticos. Têm feito declarações nesse sentido, mas na prática ainda não fizeram nada”.
Na passada segunda-feira, depois da reunião da Confederação de Empresários da CPLP, este organismo propôs avançar já com a mobilidade entre os países africanos de língua portuguesa se as regras de Schengen representarem um impedimento para Portugal.
Até porque, como refere Spencer Lima, a CPLP, actualmente, para os empresários tem sido um zero. Nada. Mas poderá vir a ser muito importante. “Isso vai depender da vontade dos políticos. A CPLP tem sido uma comunidade de políticas, de diplomacia, mas no mundo de hoje, o cimento das relações entre os países são as relações empresariais e económicas. É evidente que as relações políticas são necessárias, e sem relações políticas não vamos lá, mas são as duas faces da mesma moeda. Dai que a CPLP precise de levar em conta, urgentemente, o lado económico, o lado empresarial, até para que as populações vejam que há vantagens em pertencer a uma comunidade. Se não, é uma comunidade de políticos e tem um fim muito depressa”.
A mobilidade económica e empresarial tem sido outro dos tópicos que tem dominado as conversas nos bastidores da cimeira. Cabo Verde, já se sabe, pretende avançar com medidas para acabar com a dupla tributação entre os países da CPLP, e para proteger os investimentos. E esses já serão passos importantes, na opinião de Spencer Lima. “Primeiro, estamos a procurar a segurança jurídica para que os investimentos possam ter lugar. Porque ninguém sai do seu país para ir investir noutro país se não tem o mínimo de clareza no que vai fazer e se não tem a segurança, sem saber que põe lá o dinheiro e depois vem outro e fica com ele. É preciso dar essa segurança jurídica aos empresários e às empresas, para que possa haver essa deslocação de um espaço para o outro e para que a CPLP seja um espaço económico. Temos de ter essa garantia e garantia de retorno, porque as empresas não são instituições de caridade. Têm responsabilidade social, mas não são instituições de caridade”.
Sendo assim, na visão dos empresários, o que seria uma boa Comunidade dos Países de Língua Portuguesa? “Uma que tenha o lado económico também presente”, diz o presidente da Câmara de Comércio do Sotavento. “O lado político tem de estar sempre presente, os nossos países têm de ter boas relações para que os empresários tenham boas relações, mas o lado político já existe há muito tempo. Já não estamos a falar do período da independência, em que houve muita desconfiança, isso já acabou, já não faz sentido falar disso, agora falamos de amizade, de confiança, entre os povos. Falta o outro lado da moeda que já não são os políticos que o fazem, os políticos não fazem negócios, não importam, nem vendem, e essa parte é fundamental para tornar a CPLP numa organização capaz, credível e sobretudo útil para os nossos povos. Se não, não vale a pena”.
“Só quando a mobilidade entrar em funcionamento é que os cidadãos vão perceber a CPLP. Enquanto for conversa de políticos, ninguém quer saber disso”, conclui Spencer Lima.
Fonte: Expresso das Ilhas